19 maio 2011

Sarkozy é o assunto também no Festival de Cannes

Carlos Helí de Almeida, de CannesO presidente francês Nicolas Sarkozy durante reunião em Versalhes, a oeste de Paris

O presidente francês Nicolas Sarkozy durante reunião em Versalhes, a oeste de Paris (Eric Feferberg/AFP)

“O presidente é mostrado como um ser humano. Somos o conjunto de diversas facetas e temos que levar em conta esta complexidade. Não sou intimo ou muito próximo de Nicolas Sarkozy. Eu me vi confrontado com um personagem como Hamlet ou Harpagon”, disse Durringer

O lançamento da campanha de Nicolas Sarkozy à reeleição coincidiu com dois episódios que, até agora, têm beneficiado o presidente francês. O primeiro – e inesperado – foi o fato de o principal provável rival, o socialista Dominique Strauss-Kahn, ter sido preso em Nova York no último sábado, acusado de abuso sexual. O segundo – e muito provavelmente planejado – ponto de virada na história de Sarkozy e da eleição francesa é o anúncio da gravidez da primeira-dama Carla Bruni, que tem contribuído para algum verniz de simpatia ao político de direita, num momento em que a popularidade do presidente não é das melhores.

Nesta quarta-feira, 18, no Festival de Cannes, em um dia especialmente dedicado a polêmicas, estreou o que pode ser considerado um terceiro elemento favorável a Sarkozy, em uma sequência de eventos que certamente fará o “maio de 2011” um mês inesquecível para o marido de Carla Bruni: é La Conquête, exibido como parte do lote de títulos hors concours. O filme de Xavier Durringer dramatiza os momentos que antecederam a vitória de Nicolas Sarkozy nas eleições que o conduziram ao Palácio do Eliseu.

“Não se trata de um filme feito com objetivos políticos”, defendeu-se Durringer, durante a coletiva de imprensa que se seguiu à projeção de La Conquête. “O presidente é mostrado como um ser humano. Somos o conjunto de diversas facetas e temos que levar em conta esta complexidade. Não sou intimo ou muito próximo de Nicolas Sarkozy. Eu me vi confrontado com um personagem como Hamlet ou Harpagon”.

Como se sabe no Brasil, nem sempre são previsíveis os efeitos que têm entre si eleições e cinema. O filme Lula, o filho do Brasil, lançado em ano eleitoral – janeiro de 2010, revelou-se um fiasco de público e crítica. O título, dirigido por Fábio Barreto, amargou ainda outro episódio indigesto: a escolha do filme para representar o Brasil na disputa para a indicação ao melhor filme de língua estrangeira no Oscar de 2010 indignou parte do público e dos profissionais ligados ao cinema – levantando dúvidas sobre os méritos cinematográficos da história do presidente.

Cinema e política – Ao longo dos últimos anos, o Festival de Cannes abriu espaço em sua programação oficial para filmes com motivações políticas. Esta plataforma permite dar mais visibilidade a títulos que dificilmente conseguiriam espaço digno na mídia, como o documentário The Big Fix, da americana Rebecca Tickell, que investiga o derramamento de petróleo no Golfo do México, ano passado, um dos títulos mais controversos da programação do 64º Festival de Cannes.

O filme, que ganhou o apoio dos atores Peter Fonda e Tim Robbins, aqui funcionando como produtor executivo, denuncia sequelas ainda visíveis do desastre e a manipulação de seus desdobramentos por parte do governo americano.

“Nós visitamos os lugares atingidos para procurar as verdadeiras causas do derramamento e a dimensão do impacto do acidente na região”, contou Rebecca, que ainda carrega no corpo as marcas do contato prolongado com o óleo e os dispersantes químicos usados na operação de recuperação da área.

A quarta-feira de Cannes foi, até aqui, o dia de temperatura mais alta, no termômetro político. Além de The Big Fix e La Conquête, a programação deu de presente às manchetes do mundo todo a infeliz brincadeira feita pelo diretor dinamarquês Lars Von Trier, no lançamento de seu Melancolia. Depois de dizer, ironicamente, que seria simpatizante de Hitler, o cineasta teve de pedir desculpas e assumir o óbvio, para quem guarda algum bom senso: não se brinca com o sofrimento alheio, nem é possível manter total controle sobre frases tão controversas diante de jornalistas de todo o planeta.


LA CONQUÊTE (Teaser) por LePostfr