
Johnny Depp reina sozinho, mas Penélope Cruz dá frescor a 'Piratas 4' (Divulgação)
A afeição de Johnny Depp pelo capitão Jack Sparrow salta aos olhos no quarto filme da franquia Piratas do Caribe. A cada andar dançante, trejeito e olhar sugestivo de seu personagem, ele parece se deliciar. Para a felicidade de seu público. Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas chega aos cinemas nesta sexta-feira sustentado, mais que os longas anteriores da série, na atuação impecável do ator preferido de Hollywood, que agora já não tem o casal William Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley) para dividir atenções. Jack é protagonista absoluto, aparece em mais cenas e diálogos inspirados e divertidos, que por si só, valem o ingresso para mais um filme da série - pela primeira vez, em formato 3D -, ainda que peque pela sensação de déjà vu que transmite em diversos pontos de seu roteiro.
Não foi à toa que Sparrow se tornou rei em definitivo da saga. É a esse carismático pirata – aliás, capitão – que se deve o sucesso de bilheteria do gênero capa-espada junto às mais diversas faixas etárias. Com trejeitos de Keith Richards, “muso inspirador” de Depp, Sparrow ajudou a Disney a arrecadar algo em torno de 2,6 bilhões de dólares (cerca de 4,2 bilhões de reais) com a franquia, valor prestes a ser ampliado com os salgados preços das sessões em 3D, a nova febre cinematográfica. O que era apenas um brinquedo da Disney World se transformou numa das sequências mais lucrativas da história do cinema e promete continuar assim: o estúdio já contratou roteirista para o quinto longa da série, previsto para o fim de 2012.
Navegando em Águas Misteriosas, o filme que estreia agora, cumpre o seu papel de veículo do impagável Jack Sparrow e funciona como entretenimento despretensioso. Mas deixa a desejar no quesito originalidade. Calcado na desgastada fórmula que combina mistério e ação, o filme não escapa dos clichês e receitas prontas, que jorram na tela sob a forma de um capitão malvado (Barba Negra, interpretado pelo ótimo Ian McShane), de um romance sofrido entre a sereia Syrena (Astrid Bergès-Frisbey) e o missionário religioso Philip (Sam Claflin), de marujos com aparência de monstros, de um contramestre feiticeiro e profecias a serem cumpridas.
Bastante familiar, não? Quem assistiu aos outros filmes se lembra de episódios com as mesmíssimas características. Até o mote da vez já havia sido revelado antes, nas cenas finais do terceiro filme (No Fim do Mundo), quando Sparrow, sozinho em alto-mar e de posse de um mapa, diz que sua próxima aventura será buscar a fonte da juventude.
Outro detalhe chama a atenção e parece ser mais que coincidência no longa dirigido por Rob Marshall (de Memórias de uma Gueixa e do musical Chicago). As deslumbrantes sereias receberam dentes afiados e, de tão pálidas, lembram outro modismo em alta - o dos vampiros.
Penépole Cruz – As novidades ficam por conta da mudança de paisagem – a saga deixa o Caribe pela Inglaterra, Espanha e pequenas ilhas, com filmagens no Havaí – e do elenco. Fica a cargo da bela e talentosa Penépole Cruz dar frescor ao quarto Piratas. Ela interpreta Angelica, um antigo romance de Sparrow que aprendeu tão bem suas artimanhas a ponto de se passar por ele. De personalidade misteriosa, mas com certa carência enrustida, ela é sagaz e habilidosa com a espada e, com seu inconfundível sotaque espanhol, confere uma grata dose de emoção ao filme.

Outras presenças não menos importantes são as do já consagrado capitão Hector Barbossa (Geoffrey Rush, indicado ao Oscar de coadjuvante este ano por O Discurso do Rei), mais cômico do que nunca, e do marujo Joshamee Gibbs (Kevin R. McNally), fiel escudeiro de Sparrow. Sem falar no maravilhoso Keith Richards. O guitarrista dos Rolling Stones volta a assumir o papel do capitão Teague, pai de Sparrow, em duas ou três cenas que, apesar de curtas (como em No Fim do Mundo, terceiro longa da franquia), seguramente abrirão sorrisos na plateia.
Depp já declarou ter se inspirado no roqueiro "nada família" para moldar o seu Jack Sparrow. E foi o maior incentivador para que Richards participasse da série. "Depois de ter Keith no último filme, eu sabia que ele tinha que voltar. Falei com Jerry (Bruckheimer, o produtor) e com os roteiristas logo no início e todos concordaram. A reação global à presença de Keith como capitão Teague foi monumental", afirmou em coletiva de imprensa.
Richards, por sua vez, com a irreverência que lhe é peculiar, falou sobre a participação com bom humor. "Johnny arquitetou tudo. Ele me perguntou: 'Você topa?' E eu respondi, 'Me dá a roupa, baby'. É muito divertido."
O detalhe curioso da história é que foi justamente pelo balanço nada convencional do roqueiro que o capitão Sparrow chegou a ser desacreditado pelos executivos da Disney, quando, em 2003, o primeiro Piratas do Caribe foi lançado. Um sujeito de ares esquisitos e, por vezes, tão afeminado, estava fadado ao fracasso, imaginaram. Não podiam estar mais equivocados. Deu tão certo que hoje ele assumiu o comando pleno da franquia.