16 maio 2011

Defesa de Strauss-Khan vai precisar de provas. E depressa

 “Esta candidatura me parece improvável", disse Françoise Fressoz, responsável pela área de Política do jornal Le Monde

“Esta candidatura me parece improvável", disse Françoise Fressoz, responsável pela área de Política do jornal Le Monde (Andrew Gombert/AFP )

Cotado como o principal adversário do atual presidente, Nicolas Sarkozy, nas eleições presidenciais da França em 2012, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, passará mais uma noite na cela de pouco mais de 5 metros quadrados em uma prisão em Nova York. Ele está detido desde sábado por acusação de ato sexual criminoso, cárcere privado e tentativa de estupro contra uma camareira. Até agora, DSK, como é conhecido em seu país, alega inocência, mas terá muito trabalho para provar o que diz, já que esteve envolvido em casos desse tipo pelo menos duas vezes - em 2002, com a jornalista Tristane Banon, e em 2008, com uma subordinada do FMI. Contudo, se quiser voltar ao cenário político, terá que se apressar.

“Ele só terá caminho livre se conseguir provar rapidamente que é inocente. Se a Justiça demorar semanas ou meses, será mais difícil ele se candidatar às primárias”, afirma a responsável pela área de Política do jornal Le Monde, Françoise Fressoz. Já o jornalista do Figaro Paul-Henri du Limbert foi ainda mais enfático. “É evidente que Dominique Strauss-Kahn não será o próximo presidente da República Francesa", disse. “A esquerda vê desaparecer o cenário que os pesquisadores anunciavam, prevendo para DSK quase uma eleição ganha em 2012", concluiu.

Uma pesquisa publicada na semana passada pelo instituto Viavoice, Strauss-Kahn era apontado como o preferido de 39% dos partidários de esquerda, contra 20% do ex-secretário geral do partido, François Hollande. Na disputa com Sarkozy, a apuração apontou que o diretor-gerente do Fundo venceria com 27% dos vontos contra 20% do atual presidente.

De olho em 2012, o Partido Socialista ainda tenta salvar a imagem de DSK. O porta-voz da legenda, Benoît Hamo, disse que, até o momento, as informações disponíveis sobre o caso são “incompletas e contraditórias”. “Diante de uma situação de tamanha incerteza, nós devemos nos ater ao princípio de que DSK é inocente. É inútil escrever a história antes dela ocorrer, seja no que se refere ao futuro do DSK, às consequências para o FMI, para a França ou para as primárias do partido”, afirma.

Processo - A defesa de Strauss-Kahn corre contra o tempo e contra as formalidades da justiça americana. De acordo com Jean-Eric Branaa, especialista em direito americano em entrevista ao jornal francês Le Figaro, o comparecimento do réu a uma audiência preliminar -como ocorreu esta manhã com o diretor-gerente do FMI - se dá quando a acusação dispõe de provas suficientes. Segundo ele, os Estados Unidos usam um “sistema acusatório”. Ou seja, o promotor reúne as provas para demonstrar a culpa do acusado enquanto a defesa tenta inocentá-lo.

“Os advogados de Strauss-Kahn já indicaram que ele dirá que não é culpado, o que vai demandar um processo. O promotor vai expor as provas e, após analisar as alegações da defesa, o juiz decidirá o futuro do suspeito”, afirmou Branaa. “Se DSK alegar novamente que não e culpado, o juiz convocará um júri de 15 a 23 cidadãos que devem se reunir, ouvindo as posições da defesa e da acusação”, disse. O especialista explicou que, se o júri tiver provas suficientes, ocorrerá uma votação para que haja uma acusação formal. Se esta acusação for aprovada, o caso passará à Suprema Corte do Estado de Nova York.

Fundo Monetário - Enquanto corre o processo legal, o Conselho de Administração do FMI também se reuniu, nesta segunda, para discutir o futuro de Strauss-Kahn. De acordo com a agência de notícias France Presse, o fundo não tomará nenhuma decisão imediata sobre o seu diretor-gerente. Ou seja, ele será mantido no cargo por enquanto. "O FMI e seu Conselho de Administração vão acompanhar os acontecimentos", revela um comunicado firmado pela diretora de Relações Exteriores do Fundo, Caroline Atkinson.

Mais cedo, a organização havia emitido notas, dizendo apenas que continuava “perfeitamente operacional, mesmo com a ausência temporária de seu diretor-geral”. Contudo, analistas franceses julgam improvável que DSK continue a dirigir a entidade internacional depois de tal escândalo em Nova York. De acordo com o Figaro, a reflexão sobre os possíveis candidatos à sucessão do francês já está começando